O Doido fala o que pensa e também escreve o que sente, sem lisuras. Com o apelido da infância, Balusca, apresenta sua inquietude e presença de espírito constante. Gambá de nascença, carioca de passagem, itabirano por convicção!
Na juventude, como bom desportista, futebolista e contemporâneo de Leônidas “Diamante Negro” da Silva, de maneira inusitada, ambos marcavam primorosos gols de bicicleta, contam os seus antigos admiradores. No Ponto de Briga, sempre brigava ou aprontava.
Fecha Nunca nunca fechava, vinte e quatro horas funcionava e trabalhavam o Doido e seu irmão, a servir os operários das minas de ferro. Por não fechar, simplesmente arrancou as portas do boteco/restaurante que era para dar mais espaço no salão e não ter o trabalho de cuidar do entulho que se transformaram as portas de duas abas.De tão doido que era promoveu em Itabira a primeira festa de cabide pública, em plena década de 1930 e numa Sexta-feira Santa.
Com a mente arejada pelos ares cariocas, novas idéias, muita criatividade e com o otimismo costumeiro estimulou as pessoas e fundou o Consórcio de Pequenos Mineradores da Bacia do Rio Doce, para se tornarem, nos idos de 1960, os maiores detentores das reservas minerais conhecidas do globo terrestre.
Nadaram e morreram na praia, competiam com a CVRD e no ápice da ditadura dos milicos o Doido foi alijado do seu direito de transportar o minério de ferro para o porto. Tentou ao máximo, por vários meios e os enfardados, não ficando satisfeitos, simplesmente o trancafiaram no “corredor da morte” numa solitária do DOPS na cidade do Rio de Janeiro, isto no ano de 1974. A prisão foi realizada nas escadarias de entrada do antigo edifício sede da CVRD na Rua Graça Aranha.Fomos de ônibus, de carona em boléia de caminhão, passamos a pé no que era a sua grande jazida de minério de ferro, Brucutu; ele detinha o decreto de lavra de um terço desta reserva mineral que hoje pertence à sua antiga algoz. Sofrimento incomensurável...
Por meio de um ato odioso, porém uma atitude de grande frieza e lucidez, chamou para si toda a opinião pública da cidade numa obscura noite de homenagens na Câmara Municipal de Itabira, transformando um ato banal numa contestação sem precedente que entrou para os anais daquela Casa. Afinal, passado uns quarenta anos, aquele que foi o seu maior traidor sofreu do mesmo mal que ajudou a praticarem contra o Doido. Este traidor para não ser massacrado financeiramente também acabou por vender a sua jazida de minério de ferro àquela empresa que de pública só tinha a expressão verbal dos seus diretores, a CVRD.
Sendo ele seguidor da Inconfidência Mineira, luta pelos seus ideais libertários e Joaquins Silvérios dos Reis ainda existem!Em determinado momento da vida itabirana, o Doido saiu dizendo pelas ruas que iria vender lotes populares e a preços módicos, combatendo a sempre presente e escorchante especulação imobiliária local.
Implantamos e vendemos o Bairro Valença, não prosseguimos porque um dos antigos donos não cumpriu o trato e o próprio praticou uma especulação imobiliária brutal. Posteriormente implantamos o Fênix e até hoje estamos a ver navios passarem nos céus e aguardamos o pagamento da nossa comissão de corretagem pela venda do terreno. Com a Vila Salica não tivemos problemas na implantação e foi vendido como bairro popular e a preços módicos.Eu ainda era criança e saíamos pelas ruas da cidade e quando passávamos alguns invejosos de mente obscura diziam: -lá vai ele, aquele doido!
Diziam isto por pura inveja, por ser ele o único que enfrentou de peito aberto a CVRD e toda a sua pujante empáfia.Esse mau tratamento só acabou quando a CVRD foi doada a judeus americanos pelo governo do Fernando “Falastrão” Cardoso e aconteceu tudo o que ele pregou nos quarenta anos anteriores; diz ele que quando não mais existir minério de ferro em Itabira a tal simplesmente dará uma banana a todos nós, restando somente buracos. Pregava para as pedras, devia ser para as pedras de minério porque nunca foi ouvido, compreendido e levado a sério.
O Doido, neste mês em que completa oitenta e nove anos, segue firme em seus pensamentos e novamente está tentando implantar mais um loteamento popular na cidade, buscando meios de vender os lotes a preço justo.Com toda a lucidez que ainda tem, segue também com o propósito de realizar o primeiro Encontro Internacional de Cidades Mineradoras em Itabira, tentando resguardar o que resta de riqueza mineral de nossa cidade e de nosso país.
O Doido nada mais é do que uma pessoa visionária, entusiasmada com a vida e uma mente incomum.O Doido é simplesmente o meu pai, Aníbal dos Santos Moura, meu melhor amigo e grande mestre!
Redigi este texto na intenção de contrapor uma de minha irmã, que se diz traumatizada quando ainda tinha dezoito anos. Foi ofendida, magoada por um imbecil que perguntou a ela se era filha daquele “doido”, apesar de ela já estar beirando meio século de vida e não ter superado este trauma da juventude.
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O BAÚ DE RITA
Rita pensa: “todo mundo tem um baú”. Às vezes, gostamos de abri-lo, organizá-lo, mas raramente temos coragem de jogar alguma coisa fora, nos apegamos facilmente. Todo mundo tem um baú, um baú sem fundo, lá cabe tudo, nunca está completamente cheio.
Tic tac sem parar... Itabira mudou, Itabira cresceu. Inventamos o relógio; início, meio e fim, tudo tem seu tempo, de uma forma ou de outra é assim que acontece. Só o tempo não se divide em si mesmo, ele é sempre o tempo. Quando nascemos, ganhamos um baú do tamanho do tempo que dura nossas vidas.
Rita era a filha caçula de “Seu” João Gilberto e Dona Ita, tinha também dois irmãos: Ítala e Itael. Pois é, o tempo passou sorrateiro e Rita já não é mais criança, seus 15 anos há muito ficaram para traz, o tempo passou como tudo na vida. Mas, Rita tem um baú, um baú velho onde guarda por anos a fio pedaços de sua vida. Gosta de abri-lo de vez em quando, para lembrar do tempo de Itabira do Mato Dentro, que depois se chamou Presidente Vargas e, finalmente, em 1947, apenas Itabira, pedra brilhante. Nas suas lembranças as imagens já estão meio opacas, “retratos em preto e branco”, mas incrivelmente vivas. Era impossível se desfazer delas, não podia, assim como ninguém pode; talvez apenas adormecê-las.
São sete horas da noite, alguém toca a campainha. Rita estava com os olhos fixos no retrato de família pendurado na parede, meio mórbido, frio, silencioso. Ela abre a porta: é o entregador das compras do supermercado. O homem tira as compras da caixa ligeiramente e, calado, entrega a nota fiscal, se despede e vai embora.
Rita estava com fome. Apesar do armário repleto pelas compras, pediu à funcionária que preparasse apenas uma macarronada rápida. Jantou com prazer, mas, a todo momento, os seus olhos castanhos e grandes se voltavam para o retrato pendurado na parede. Ela se lembrava bem de quando ele havia sido tirado. Foi numa tarde, sete de setembro, a família estava reunida na hoje conhecida Praça do Largo do Batistinha (a família não era grande: pai, mãe, dois irmãos, uma cunhada e um sobrinho). Por ali passava Brás Martins, fotógrafo que por acaso morava logo ao lado. João Gilberto, pai de Rita, que era conhecido do ilustre fotógrafo, pediu-lhe que tirasse uma foto, pois toda a família estava muito bem trajada e porque não dizer feliz com os passeios do feriado. Brás Martins prontamente buscou sua máquina fotográfica, coisa de dez minutos, e... clic e um flash, pronto, sob o coqueiro que um dia lá existiu, o momento foi registrado, marcado numa folha de papel, que agora estava alí pendurada na parede. As lembranças faziam o coração de Rita doer. Havia tanta vida naquela tarde há 87 anos, e hoje, silêncio, solidão. Rita ficou viúva aos 30 anos e teve duas filhas, Tita e Itaelena.
Rita acaba de jantar. Uma enfermeira contratada pelas filhas a leva para o quarto, e ela abre o seu velho baú. O baú vivia trancado, mas de vez em quando, Rita teimava em abri-lo como se ele fosse uma espécie de máquina do tempo, envolvendo-a para dentro dele, e o que era passado, por alguns instantes, se tornava presente. Lembrou-se da Casa de Drummond, aaaah! Suspirava. Conheceu o casarão na sua forma original, a restauração mudou algumas coisas, não dava para aceitar as mudanças, era como romper com seu passado, seu passado, sim, era o local ideal. Fazenda dos Doze Vinténs ou Fazenda dos Doze, ou ainda Fazenda do Pontal, demolida na década de 70. Nesta época sentiu uma tristeza profunda, ia ao chão a fazenda onde Drummond e sua família estiveram tantas vezes, quantas histórias deveriam ter se passado por lá. Apesar disso, não se alegrou quando foi restaurada em 2004, dizia ela: “ir lá não é mais a mesma coisa, não tem mais a mesma alma”.
Itabira com muitos cavalos, poucos carros, trem de ferro, sim, ele já havia chegado, por volta de 1944, Rita estava com 34 anos. Toc tac toc toc... As patas dos cavalos salpicavam no chão, no chão de ferro de hematita, por vezes, escorregavam assustando o cavaleiro. Ela se perguntava por que as boas lembranças doíam tanto. Rita não compreende que a mudança é inevitável, na vida nada é estático, mesmo quando não queremos mudar em nada, a mudança nos é imposta. Amores, amigos, realizações, juventude... Olhou para as suas mãos e viu que elas estavam manchadas e já enrugadas, sinais de mudança.
São 13 horas Rita agendara uma consulta médica. Itaelena, sua filha mais nova, a buscou de carro. Chegaram rápido à clínica médica localizada no bairro Pará, pois morava no centro da cidade bem perto da atual rodoviária. Passou pelo poço da Água Santa, lembrando do hino de Itabira, “tem o poço d’água Santa e as fontes do Pará, quem de suas águas bebe não se esquece mais de lá”, música de “Seu” Ninico Amâncio, o Antônio Lisboa Ferreira, filho do mestre Zeca Amâncio. Apesar da idade lembrava da letra do hino cuja autora era Vitalina de São José. E mais uma vez lamentava as transgressões que na prática o hino havia sofrido: já não tem três altas serras e, saudosos estão os pássaros, como o pintassilgo e o bem-te-vi.
Depois da consulta médica, Rita e Itaelena, passaram pela rua Tiradentes, onde está localizado o Paredão. Disse para a filha: “já andei muito por aqui; os moços ficavam na rua de cima debruçados no guarda-corpo, enquanto as moças trançavam de lá para cá, na rua de baixo. Por vezes, trocavam olhares e sorrisos.
Rita ainda não percebeu, na altura do campeonato que é preciso estar aberto às novidades; “no seu tempo” como gosta de dizer, também existiam novidades, cada época conserva seus encantos. Mas Rita está com 97 anos e ainda não percebeu.
Um dos netos de Rita, fazendo uma pesquisa para a escola, pergunta à avó o que ela sabe sob a extração de ouro e minério em Itabira. Para Rita isto era um prato cheio. E, mais uma vez, apesar da idade, ainda conservava uma certa lucidez. É comum pessoas idosas terem a memória de longo prazo bem melhor que a memória de curto prazo, ou seja, são capazes de se lembrar de fatos antigos e se esquecerem dos acontecimentos recentes. E ela falava da história da cidade querida com tamanho prazer que aguçava os ouvidos do neto. Disse muitas coisas... “-A extração do ouro começou com a chegada dos irmãos Farias de Albernaz vindos de Itambé em 1720.
Surgia o povoado de Itabira ..” “-Em 1812, iniciava a extração do ferro por meio de malho hidráulico com a ajuda do barão de Eschwege, teve seu marco em 1910, ano em que nasci...” “-E a Vale?” Pergunta o neto. “-A vale veio depois em 1942...” E acrescentou curiosidades! “-No bairro Gabiroba já teve uma fábrica de tecidos fundada por volta de 1876...” “-Também tivemos um Instituto agronômico que chegou a formar alguns engenheiros...” Conversaram a tarde toda, falaram sobre pessoas ilustres e não tão ilustres assim. Ela ficou feliz, deu uma aula de história e de experiência de vida para o neto, que se tornou também mais um encantado por Itabira.
Sim, é bom um pouco de nostalgia, mostra que o que vivemos valeu a pena. Também é bom sentir saudade, até mesmo chorar de saudade. Rita é feliz assim, vivendo na saudade! E não cabe mais a nós julgá-la.
Às vezes, conseguimos separar o joio do trigo por não querermos confundir alhos com bugalhos, então dividimos o bom e o mau de nossas vidas. Mas outras vezes descobrimos os equívocos, e o bom e o mau trocam de lugar. A maneira certa de viver, muitas vezes é relativa e, depende de cada um de nós. Os pontos de vista mudam, as referências se alteram, as experiências ensinam, a vida nos sacode com seu dinamismo.
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Não são raras as vezes que me surpreendo observando esta pequena cidade do interior de MG, localizada a 100 km de BH, com aproximadamente 120 mil habitantes entre zona urbana e rural, com um terreno bastante acidentado e cercado por nômades picos e montanhas, onde há 14 anos escolhi pra viver. Embora pareça estranho, por aqui as montanhas são mesmo nômades, fato que pode ser comprovado por diversos registros fotográficos – Com o passar dos anos, o que era convexo transforma-se em côncavo, onde era necessário o esforça da subida, passa a apresentar o risco da queda livre.Já há quase uma década e meia, troquei a selva de pedras, com seu caudaloso rio de veículos e o enorme formigueiro de pessoas num incansável vai e vem das ruas da capital mineira, por esta carismática cidadezinha do interior de Minas.
Dizem os mais irônicos que Itabira é uma cidade de primeira, a única marcha necessária aos veículos que por aqui trafegam. Aprendi também a enxergá-la assim, uma cidade de primeira, porém no real sentido da expressão.
Itabira, uma cidade circundada por montanhas de ferro que chega a nos confundir – estaria a mina ao redor da cidade ou estaria a cidade dentro da mina? Itabira, berço da tão importante e famosa CVRD (Companhia Vale do Rio Doce).
Itabira que se orgulha em exibir a medalha de ‘honra ao mérito’ que traz no peito, por ter sido eleita, entre outras tantas, a terra natal do tão ilustre poeta brasileiro, conhecido e reconhecido além das fronteiras de nosso país - nosso querido Carlos Drummond de Andrade. No meu anonimato, também me sinto muito lisonjeada pelo privilégio de incluir em minha assinatura o Andrade, um Andrade mesmo que legado por um acordo matrimonial, mas que tanto me envaidece.
Estes e tantos outros detalhes sutis, contribuindo para um todo perfeito.
Itabiranos acolhedores, perfeitos e calorosos anfitriões do tipo que ao receber-nos o fazem de corpo e alma, escancarando não apenas as portas de suas casas, mas também de seus corações. Fazendo sempre grande questão de conduzir o visitante para a cozinha, como um velho e íntimo amigo, providenciando sem demora o exalar de uma fumaça aromática, anunciando aquele cafezinho da hora. Porém, as pequeninas xícaras esmaltadas jamais chegam desacompanhadas, estão sempre dividindo espaço na bandeja com tradicionais iguarias do tipo pastel de angu, broa de fubá ou o conhecido pão de queijo.
A princípio poderia ser Itabira tal qual uma pérola, que por longos e longos anos ficara protegida e aconchegada no ventre das ‘Minas Gerais’ e, gradativamente fora se formando, fazendo crescer em sua epiderme uma espessa camada de minério e definindo pouco a pouco seu físico composto de acentuadas subidas e descidas, até se sentir pronta para ser descoberta por muitos e desbravada por tantos.
Ou, quem sabe, esta preciosa pedra seria vista ao longe como uma esmeralda, tal o imenso tapete de vegetação nativa e, atualmente já em diversos pontos, fruto de um reflorestamento direcionado lhe oferecido como retribuição pelas riquezas incalculáveis que por décadas vem presenteando seus desbravadores. Este verde nativo ou plantado espelhando a esperança de todo um povo crédulo e tipicamente brasileiro.
Penso também que poderia ser esta pedra, dependendo da estação do ano e variação da posição do sol, refletida tal qual um rubi, pelo vermelho que lança ao longe, forte e intenso, como sua própria estória, recheada de inúmeros causos, singulares figuras e típicos personagens.
Em momentos ímpares, vejo Itabira como uma safira, por refletir mesmo que misturado a uma crônica neblina acinzentada, fruto das inúmeras partículas de poeira em suspensão no ar, ainda assim se camuflando sob um azul discreto, um azul calmo, um azul tranqüilo e sereno.
Às vezes a vejo como uma barra de ouro, uma barra já cheia de frisos e degraus confeccionados um a um no decorrer da constante retirada do minério das suas entranhas. Seria um tipo de ouro branco com um ouro de tonalidade bem escura, quase que negro, mas que mesclados emite um brilho forte e intenso capaz de ofuscar a visão de quem insiste em mirá-lo por muito tempo.
Já outras vezes, esta pedra tem sido como a descoberta de um enorme e valioso diamante, que com uma luminosidade mágica me atraiu, que com seus filhos carismáticos e anfitriões me encantou e que, com uma energia contagiante, me convenceu.
Vejo Itabira como este diamante, uma das mais preciosas das pedras que aqui fora colocada, para aos poucos ser lapidada por seus filhos (legítimos, bastardos ou mesmo adotados) e, assim transformada em um maravilhoso brilhante. E, se pensarmos bem, um diamante nada mais é do que um brilhante em potencial, necessitando apenas ser lapidado para fazer realçar e aflorar a sua beleza, o seu brilho, o seu ‘glamour’.
Se uma espessa camada de minério fora colocada sobre esta pedra, que seja retirada sim, mas com muita responsabilidade e critério, para não agredir e não comprometer a forma final deste precioso brilhante.
Itabira não pára, não pára de crescer por um foco e decrescer por outro. Cresce em tamanho, cresce em cultura, cresce em eventos, cresce em população e, em contrapartida, decresce em divisas, uma vez que suas montanhas têm desaparecido diante de nossos olhos.
Penso eu ter também de certa forma contribuído com este crescimento, sendo que a mais considerável a meu ver é ter somado à sua população mais três personagens, que por ela já aprenderam a ter muito respeito e consideração.
Tenho grande orgulho de viver em Itabira, de dividir com esta ‘pedra’ as minhas três mais preciosas de todas as pedras, meus três filhos... Filhos que desejo ver crescendo dentro dela e em parceria com ela.
Hoje em nossas mãos temos a responsabilidade de artesões que poderão deixar uma herança farta ou muitas dívidas para as gerações subseqüentes.
O que sei é que Drummond fora além de um grande poeta, também um sábio profeta ao afirmar: “é como que um destino: ser-se itabirano para toda a vida”.
CABARÉ
“Era um homem muito inteligente, mas muito levado.”
Ambientada no século XIX, tendo como cenário principal Itabira do Mato Dentro, a trama que aqui se desenrolará tem como protagonista Ocarlino Machado da Costa Lage (1890-1968). Enquanto na coxia, a coadjuvante Clotilde de Teixeira Lage (1902-1958) sofria de ansiedade, lá estava Ocarlino brilhando nos palcos da madrugada.
Para Clotilde, o drama não acabava ali. Depois da venda do cassino, seu marido passou a viver viajando. Conseguiu licenças falsas de odontologista e médico. Também era parteiro nas horas vagas. Freqüentava festas, bailes, carnavais sempre em diferentes cidades. Fez diversos partos, diagnosticava e receitava medicamentos.
-Saiam do quarto, isso é normal.
Antes de morrer, estava muito fraco, então cheio de idéias amarrou uma correia na cama para se levantar. Devido aos vícios adquiridos durante a vida malandra, e um enfisema pulmonar, deixou os palcos da vida aos 78 anos de idade.
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LABOR DELICADO
A cor foi entrando de mansinho, com aguadas cinzas e depois o vermelho e o amarelo. Junto veio a colagem. Nela meus olhos se abriram para tudo que faço até hoje. Não há limite para encontrar na textura, na cor e na ternura que percebo em papéis e tecidos o prazer em recolhê-los em muitas caixas.
Tenho uma gratidão por Deus e a minha família, pelo meu desenho. Muito tímida, a convivência social sempre foi difícil para mim. O desenho me pôs um pouco para fora.
Por volta de 1999, por causa de uma alergia não conseguia mais trabalhar com o nanquim. Voltei para o grafite e consegui fazer com ele o mesmo que a finíssima caneta 0.13 pode fazer.
Nessa época os pequenos quadrinhos de 7x7cm com versos de poemas de Carlos Drummond de Andrade tomavam corpo. Recortando as letrinhas do horóscopo da “Folha de S. Paulo”, uma a uma, depois de escolhido o suporte, montava o poema. Os quadrinhos aumentavam de acordo com o tamanho do mesmo. Quando pensei nesse trabalho, tinha como certo que a letra a ser usada deveria acompanhar o labor delicado do meu desenho. A maioria dos poemas é de Carlos Drummond de Andrade. Os outros poetas são: Ferreira Gullar, Adélia Prado – de quem obtive autorização por escrito para trabalhar com poemas de seu livro “Oráculos de maio”, Mário Quintana, Manoel de Barros e Rubem Alves. Esse trabalho, continuo fazendo até hoje.
Nesses quase 20 anos de desenho, mostrei meus trabalhos em salão e coletivas, tendo realizado exposições individuais em galerias de Itabira e Belo Horizonte. Em 1995, participei do XX SARP – Salão de Arte de Ribeirão Preto, São Paulo. Em 1996, fui uma das artistas selecionada na 5ª Concorrência de Talentos do Espaço Cultural da CEMIG, Belo Horizonte. Em 1998, no BDMG Cultural, Belo Horizonte. Em 2005, no 5º Processo Seletivo na Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP. Em 2006, tive meu projeto da vaquinha do “Cow Parade/BH” selecionado.
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